Após esperar duas horas em um ponto de ônibus da Avenida Brasil, na altura de Paciência, Fabiana Libertholdo, de 36 anos, tem que contar com a ajuda de outros passageiros para levar o filho cadeirante, de 7, ao tratamento. Como os elevadores para deficientes não funcionam na maioria dos coletivos, homens precisam saltar e carregar o menino para dentro do veículo, que geralmente vem lotado. O problema é apenas uma das dificuldades que ela enfrenta nas viagens de ida e volta até a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPB), em Campo Grande, duas vezes por semana.
A aflição da família começa antes de chegar o ônibus da linha que liga Itaguaí a Campo Grande, da empresa Expresso Mangaratiba. Segundo Fabiana, boa parte dos motoristas passam direto pelo ponto após perceberem que o menino usa cadeira de rodas. Quando eles atendem ao sinal, abrem as portas e alegam que não podem levar Natã, já que os elevadores de acessibilidade raramente funcionam.
— Sempre passo constrangimentos. Outro dia tentei pegar o que estava no ponto e não consegui, pois não tinha acessibilidade. No segundo ônibus que passou, os passageiros carregaram meu filho. Mas, depois de quatro quilômetros, o veículo enguiçou e precisei da ajuda de homens mais uma vez para sair do ônibus — relata Fabiana.

Além de motoristas que não param, elevadores quebrados e ônibus enguiçados, Fabiana lida com o medo dos assaltos frequentes nos pontos de ônibus da Avenida Brasil. A maior preocupação dela, porém, é que o filho perca o tratamento para paralisia cerebral por não conseguir chegar ao atendimento.
— Corremos risco ali parados na Avenida Brasil, esperando esse bendito ônibus Mangaratiba. Pois atualmente neste ponto e ônibus estão acontecendo assaltos todos os dias. Sem contar que o Natã corre o risco de perder a vaga no tratamento, pois não pode ter faltas sem justificativas. Estou, muito mais muito chateada — relata.
A SMPB oferece transporte às segundas-feiras para Natã, porém, segundo a mãe, não há vagas para o transporte oferecido em outros dias da semana. O menino sofre com um tipo raro de paralisia e precisa fazer sessões de fisioterapia.

Em nota, o Departamento de Transportes Rodoviários (DETRO) afirmou que realizará uma operação na linha para apurar possíveis irregularidades. Leia a nota enviada pelo órgão na íntegra:
“O Detro fiscaliza as condições de acessibilidade em suas ações regulares e em operações específicas em todo o estado do Rio de Janeiro. Diante da denúncia, o órgão realizará uma operação de fiscalização na linha Itaguaí-Campo Grande, para apurar possíveis irregularidades. A multa por problemas nos equipamentos para portadores de necessidades especiais é de R$ 2.657,97, dobrando em caso de reincidência.”
Até a noite desta quarta-feira, a empresa Expresso Mangaratiba não atendeu as demandas da reportagem.
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