Pertencente ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Ministério da Cultura, desde 1985, o Sítio apresenta aos visitantes cerca de 3.500 espécies botânicas cultivadas. Abriga ainda pinturas, desenhos e esculturas do acervo de Roberto Burle Marx.
O SRBM
É uma instituição cujas funções básicas – conservação, pesquisa e difusão de bens naturais e culturais – a caracterizam, segundo conceito estabelecido pelo Conselho Internacional de Museus – ICOM/UNESCO – como unidade museológica; segundo sociedades internacionais de jardins botânicos e a Rede Brasileira de Jardins Botânicos, como Jardim Botânico e, segundo a determinação de Roberto Burle Marx, ao doá-lo em 1985 à então Fundação Nacional Pró Memória, como um centro de estudos, no caso um Centro de Estudos de Paisagismo, Botânica e Conservação da Natureza.
Localizado na vertente oeste do Morro do Capim Melado, pertencente ao maciço da Pedra Branca, o terreno de 807.000 m2 vai da cota zero à altitude de 400m, numa faixa de aproximadamente 350m de largura, ao longo da linha de maior declive. É limitado, na parte mais baixa, pelo Canal da Maré que deságua na Baía de Sepetiba e, na mais alta, pela cumeeira do morro. Sua vegetação nativa constitui-se de espécies pertencentes ao manguezal, à restinga e à mata atlântica.
Convivendo com a vegetação nativa, seu acervo botânico e paisagístico, que inclui cerca de três mil e quinhentas espécies cultivadas, com ênfase em plantas tropicais autóctones do Brasil, é, segundo a opinião de diversos especialistas do país e do exterior, uma das mais importantes coleções de plantas vivas existentes em todo o mundo, sendo de inestimável valor como testemunho das profundas alterações sofridas pela natureza em nosso país.
O SRBM é hoje uma unidade especial pertencente ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão do Ministério da Cultura, e está situado na Estrada Roberto Burle Marx (antiga Estrada da Barra de Guaratiba) n.º 2019, na zona oeste do município do Rio de Janeiro. Foi residência particular de Roberto Burle Marx, de 1973 até em 1994, ano da morte do mais famoso paisagista brasileiro.
Até o século XVII, o sítio chamava-se Fazenda da Bica, pois na parte mais alta do terreno existem fontes de água que eram canalizadas e aproveitadas pelos moradores da região numa bica acessível a todos, junto à estrada. Em 1681, a fazenda pertencia a um senhor que mandou erigir, naquele ano, ao lado da casa principal, uma capela dedicada a Santo Antônio. A partir daí, passou a ser conhecida como Sítio Santo Antônio da Bica.
Em 1949, foi adquirido por Roberto Burle Marx e por seu irmão Guilherme Siegfried Marx para abrigar uma coleção botânica. Em 1973, Burle Marx mudou-se definitivamente para lá, onde pode acompanhar com mais constância a aclimatação e o desenvolvimento das plantas, em grande parte obtidas por meio de freqüentes excursões de coleta que realizou a locais de vegetação intocada no Brasil. Muitas dessas plantas tinham comportamento completamente desconhecido e necessitavam ser testadas antes de utilizadas em projetos de paisagismo.
Com o passar do tempo e ampliação do acervo, Burle Marx começou a imaginar uma forma de fazer com que seu esforço não se perdesse num futuro que já o preocupava. Havia na coleção muitas espécies, tão raras em seu habitat natural quanto escassas no Sítio, sendo multiplicadas para que, quando houvesse um número razoável, pudessem ser incluídas nas experiências e, talvez um dia, introduzidas no vocabulário paisagístico corrente. A oportunidade de garantir a continuidade do trabalho apareceu quando a Fundação Pró Memória (hoje IPHAN), reconhecendo o grande valor daquela obra, dispôs-se a manter o Sítio depois do desaparecimento de seu criador.
Após a doação ao Governo Federal, em 1985, o lugar passou a chamar-se Sítio Roberto Burle Marx, conforme estabelecido no termo oficial.
A partir de 1992, ficou decidido, em últimas instâncias judiciais, que o trecho entre a então Estrada da Barra de Guaratiba (hoje Estrada Roberto Burle Marx) e o Canal da Maré era propriedade do Exército, ficando o SRBM restrito á parte restante, com 407.000 m2.
Nesta área, ao longo de 45 anos, Roberto Burle Marx organizou e preservou uma das mais importantes coleções de plantas vivas do mundo, seja pela quantidade de indivíduos, seja pela diversidade das espécies preservadas, destacando-se as famílias das Araceae, Bromeliaceae, Cycadaceae, Heliconiaceae, Marantaceae, Arecaceae e Velloziaceae. No acervo predominam plantas autóctones do Brasil.
Lagos, morros, nascentes, encostas, brejos, pedreiras e algumas áreas relativamente áridas abrigam esta coleção. Foram também construídos ripados ou sombrais para as plantas que necessitam de condições ambientais especiais de sub-bosque, totalizando mais ou menos 14.000m2 de área coberta por um tipo de tela de proteção especial denominada “sombrite”.
O SRBM conta ainda com importante acervo museológico e bibliográfico, dividido em três conjuntos de imóveis principais, destacando-se, primeiramente, a casa onde o paisagista morava. Esta casa foi aberta ao público em agosto de 1999. Sua construção é do início do século, mas sem grande valor como representante da arquitetura de uma época, pois sofreu várias alterações e acréscimos. Abriga importantes conjuntos, entre os quais enumeramos coleções de arte sacra, pinturas e esculturas do próprio Burle Marx e de artistas contemporâneos, arte pré-colombiana, obras de arte popular brasileira em cerâmica (principalmente do Vale do Jequitinhonha) e madeira, mobiliário e objetos de decoração, bem como uma coleção de conchas.
A casa encontra-se preservada exatamente como por ocasião da morte do doador, constituindo fundamental documento sobre Burle Marx. Na área externa da casa, localiza-se a “Loggia”, local utilizado para serigrafia e pintura de grandes painéis em tecido. Mais adiante há um grande salão de festas aberto, projeto de Haroldo Barros e Rubem Breitman, premiado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil em 1963. Em ambos os locais, existem painéis de azulejo de autoria de Burle Marx.
Ao lado da casa, localiza-se a Capela de Santo Antônio da Bica, construída no século XVII e restaurada pelo paisagista, com assessoria de Lúcio Costa e Carlos Leão. Tombada pelo patrimônio estadual, a Capela ainda hoje é utilizada pelos habitantes da região para cerimônias religiosas administradas pela paróquia de Guaratiba.
No final de sua vida, o paisagista fez construir, num nível do terreno mais alto que o de sua casa, um ateliê que pretendia usar para seus trabalhos de pintura, desenho, serigrafia, gravura e escultura e também como um espaço para exposições, aulas etc. A construção apresenta uma fachada original feita de pedras de cantaria, pertencente a um imóvel do século XVIII, antes localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, cujo projeto é provavelmente de um discípulo do arquiteto Grandjean de Montigny. O projeto do ateliê é do arquiteto Acácio Gil Borsoi. Seu interior abriga uma tapeçaria e alguns quadros de grandes dimensões, pintados por Burle Marx expressamente para o local, bem como parte de sua coleção bibliográfica. Contém ainda alguns exemplares de suas esculturas em bronze e em vidro (Murano) e algumas peças de artesanato brasileiro.
O prédio da administração do Sítio, onde funciona a diretoria e as equipes de técnicos e de administradores, foi obra projetada pelo arquiteto Ary Garcia Rosa. Possui uma biblioteca especializada com cerca de 2.600 títulos em botânica, arquitetura e paisagismo, duas salas de aula, um auditório, um herbário e um laboratório para pesquisas. A estrutura permite o funcionamento regular de cursos de jardinagem, paisagismo e botânica para o público em geral e, mais especificamente, para níveis superiores de graduação. Por falta de uma reserva técnica, encontram-se nas paredes internas desta edificação várias pinturas de Burle Marx, bem como seus diplomas, certificados e medalhas.
A visitação pública ao SRBM começou a ser feita, em dias úteis, no ano de 1995, para grupos previamente agendados de até 35 pessoas. A partir de 1996, passou a acontecer também nos fins de semana. Entre os visitantes, incluem-se arquitetos e paisagistas de todo o mundo, pesquisadores, fotógrafos e ilustradores botânicos, turistas estrangeiros e de outros estados brasileiros encaminhados por agências de turismo, bem como um grande número de estudantes da rede pública e privada e grupos de terceira idade. As visitas são orientadas por guias especialmente treinados que fornecem informações sobre Roberto Burle Marx, sua obra, a coleção de plantas e seus espécimes individuais.
Em 10 de agosto de 2000, numa sessão solene, comemorativa do centenário de nascimento de Gustavo Capanema, o conselho do IPHAN decidiu que o SRBM seria tombado, o que de fato aconteceu em 14 de junho de 2002, através da Portaria n.º 321, publicada às fls. 329 do Diário Oficial da União.
A questão do tombamento dos jardins do SRBM foi debatida na sessão de 10/08/2000, tendo vários conselheiros se pronunciado quanto à falta de critérios estabelecidos capazes de pautar aquele procedimento, e semelhantes no futuro. O presidente do IPHAN considerou procedentes as observações e reconheceu a oportunidade de elaborá-los a partir daquela data. (Ata da 23ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural).
Roberto Burle Marx dizia: “– O jardim é a natureza ordenada pelo homem e para o homem”. Tanto o jardim como a natureza possuem a dinâmica da vida e, pelo fato de que o principal acervo do SRBM é constituído de jardins, florestas preservadas e coleções de plantas, sua manutenção é bastante diferente, tanto nas ações quanto no que se refere às apreciações, avaliações e quantificações para relatórios de trabalho, daquelas de unidades museológicas de acervo inerte.
A qualidade de uma área paisagística nunca permanece constante. Pode decair, se não houver manutenção adequada, ou evoluir favoravelmente se o trabalho que ela demanda for acompanhado da compreensão do que se pretendeu alcançar e foi perseguido durante o trabalho desde o início.
As condições climáticas das latitudes em que vivemos favorecem a exuberância da vegetação. Além da torrente de plantas “clandestinas” que tenta permanentemente conquistar seu espaço, alguns indivíduos e conjuntos vegetais avolumam-se em detrimento de outros que também faziam parte da experiência paisagística original. Tudo isto é acompanhado de mudanças no microclima e na situação das disputas pelos nutrientes do solo e pela energia solar.
Roberto Burle Marx costumava nos alertar para o que ele chamava de “o imponderável” nos projetos de jardins, que tanto pode ser uma agradável surpresa, como seu oposto.
O exercício da decisão sobre o que vale a pena manter e o que precisa ser erradicado tem que ser quotidiano.
Grande parte de nossa atividade é empregada para evitar que a avassaladora ordem silvestre, nesse caso sinônimo de caos cultural, ocupe o espaço da ordem humana que aqui é patrimônio de todos os brasileiros.
Estr. da Barra de Guaratiba, 2.019 - Barra de Guaratiba
Tel.: 2410-1412/2410-1171
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